Saturday 10 September 2011

Emprego, inovação & a "big picture"

Um colunista da CNN diz que os empregos estão obsoletos, o que levou a uma longa discussão no HN. Aqui pelo burgo, onde obsoletos ou não, os empregos são cada vez mais uma raridade, o senhor do vídeo em baixo embebido diz que o que é preciso é que a malta que sai das universidades, em vez de mandar CV's para as empresas, e depois dizer: "pronto está aqui o meu CV, agora arranje-me um emprego" é preciso que o pessoal aprenda a vender o seu trabalho. Toda a gente que eu conheço teve uma reacção unânime ao ver este vídeo: elogios de louvor. Bem, toda a gente menos eu.

Não quero com isto dizer que o senhor esteja errado naquilo que diz: muito pelo contrário, acho que está absolutamente certo. No fundo o que ele diz é que cada trabalhador deve saber ser um "micro-empresário": deve saber "vender" o seu "produto" (neste caso, o seu trabalho). O conselho não é novo: já em 2005, Joel Spolsky dizia essencialmente o mesmo:
Why should CS majors learn econ? Because a programmer who understands the fundamentals of business is going to be a more valuable programmer, to a business, than a programmer who doesn't. That's all there is to it.
É claro que isto coloca todos os que escolheram outro ramo de estudos que não gestão, marketing ou economia, numa posição um pouco inglória, pois vão acabar por ter que estudar essas matérias na mesma. Mas esse parece ser o caminho a percorrer para criar mais emprego: criar mais empreendedores.

Então, qual é a minha objecção a isto?

Simples: isto empurra-nos para uma sociedade que tem uma dependência crítica da inovação. Esta última, que tanto nos deu de bom, quando forçada deste modo, faz com que comece a haver um incentivo para que se resolvam problemas que ninguém tem. Para usar uma expressão mais sucinta, cria-se um incentivo para começar a "manufacturar a procura" (manufacturing demand). Dito de outro modo, a necessidade de inovações que continuem a fazer com que o dinheiro circule é tanta, que começa a fazer sentido que para além de criar um produto, se crie também o mercado para esse produto. O marketing e a publicidade passam a ser tão (ou mais!) importantes do que o produto sobre o qual incidem.

E qual é o problema que isto tem?

Só incentiva as "inovações" que dão lucro, e incentiva muito mais as que o fazem a curto prazo, do que as que dão lucro a longo prazo (as empresas só começam a pensar no longo prazo depois de o curto prazo estar assegurado). E isto é mau por várias razões. Primeiro, porque torna quase impossível que alguém que não seja rico dê algum contributo à sociedade que não seja gerador de lucro---e há muitas formas de riqueza que vão para lá do dinheiro. Segundo, isto leva-nos a um ciclo vicioso em que a dependência da inovação é cada vez maior. Se por alguma razão, houver algum período em que o ritmo a que surgem empresas novas e ramos de negócio novos diminui---e assumindo que os padrões demográficos se mantêm---isso significará mais desemprego, com todas as consequências que daí advêm. E depois lá virão os political pundits do costume, dizer como é necessário investir na inovação, na criação de emprego, no aumento da produtividade, etc. Em suma, continuar a tratar os sintomas, enquanto se faz de conta que a doença não existe.


Miguel - Prós e Contras (20-06-2011) from José Carlos Oliveira on Vimeo.

2 replies:

Anonymous said...

pois é oscar. já devias calcular que vinha fazer este comentário :P Esse senhor é de Braga :P Quando te mudas para cá? Já era tempo ;)

gauthma said...

LOL. Pelo andar da coisa, acho que devo é mudar de país... A não ser que norte declare a independência... :P *

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